A Folha Patuense
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terça-feira, 23 de abril de 2024
quinta-feira, 18 de abril de 2024
Especial: Arte e Reciclagem
Por Márcio Lima Dantas.
Elson Henrique de Oliveira Mesquita, nascido em Almino Afonso, (1988) trabalha com esculturas à base de reciclagens há cerca de 3 anos. Começou trabalhando no Museu do Sertão, com o Prof. Benedito Vasconcelos. O surgimento do seu ofício assomou a partir de ter ficado desempregado. Curioso despertar, para quem tenta compreender os meandros da arte na alma daqueles que detêm o talento da intuição artística.
Parece que a vida só quer uma desculpa para ungir alguém com a capacidade de produzir um objeto de arte, eivado de singularidade e destoante dos demais objetos que povoam o que chamamos de Realidade. Com Elson, foi o fato de estar desempregado. Poderia ser qualquer outro? Sim, pois as Moiras (O Destino) são vestidas do elemento surpresa, nunca deixando entrever o que resguarda para as criaturas.
Para efeito de compreensão, podemos classificar a obra do artista em duas formas básicas de construir os objetos. Temos os que são elaborados a partir de sucata, de peças que pertenceram a engrenagens ou partes de coisas feitas a partir do ferro ou do aço. Creio que é aqui onde o artista se sai melhor, onde revela um grande senso de originalidade ao congregar numa peça, - como a elegante cabeça de um cavalo ou um belo touro -, o conjunto de mínimas peças que pertenceram a outras máquinas, outros mecanismos. Resta a despótica ostentação de seres paralisados, como a referendar a capacidade de se reorganizar o mundo a partir do que foi desfeito ou descartado. Um universo edificado com aquilo que se convencionou que não há mais valor, vindo a ser obra de arte de grande feitura, com esmero e irradiando beleza para o expectador.
Creio não ser tão fácil criar a partir do que a sociedade de consumo descartou como algo que não detém mais valor prático, utilitário, relegando às sucatas, aos monturos e aos depósitos com sua mescla de inertes peças, num conjunto aleatório. E que tão somente o olhar sagaz do artista consegue divisar uma outra forma a partir daquilo que é basculho.
Eis uma alma dotada de sensibilidade artística, que consegue extrair das rumas do que fora outrora algo uno e como uma função um outro haver, justapondo peças para vir a engendrar um novo objeto, agora não mais com caráter utilitário, mas com valor estético, valendo por si e não como parte de um todo.
A segunda categoria de objetos que Elson constrói tem em vista, sobretudo, animais que pertencem ao cotidiano do viver rural. É o majestoso touro, com seus belos chifres, ostentando sua virilidade. Para mim, os mais curiosos são os bodes, mormente um elaborado com alumínio. Este animal iconifica a capacidade de resistência face a um meio que nem sempre oferece as condições propícias a um viver mais confortável. Há que se debelar o clima e a vegetação da caatinga. Nesse sentido, representa o estoicismo
de quem deve se adequar a um meio hostil, para sobreviver. É consabido a capacidade do bode de se fazer perdurar diante do que o meio proporciona, sendo capaz de sobreviver com o que a natureza oferece.
Algo bastante curioso na elaboração dos bodes é a necessidade que o artista tem de ressaltar a “masculinidade” desses animais, como se quisesse dizer de uma força atávica que a natureza imprimiu no animal. As proporções parecem querer dizer de serem dotados de uma força que os consagra como capazes de enfrentar um meio ambiente nem sempre favorável, sobretudo na estação seca da região Nordeste.
Mas o trabalho de Elson não se limita a esses dois conjuntos básicos que aqui classifiquei. Sua obra é multifacetada, representando desde personagens universais como D. Quixote e Sancho Pança, até outros mais regionais, como Antônio Conselheiro. Há uma bela cabeça de águia dourada, de fatura extremamente elaborada. Essa capacidade de representar ícones que pertencem ao Imaginário Ocidental demonstra uma rara sensibilidade artística: a de pensar o todo tendo sempre em vista as partes que serão justapostas, algo não passível de ser elaborado por qualquer um, mas advindo de uma imaginação que reelabora um mundo a partir do que um outro deixou de lado, abandonou, tornou sucata, fez de um antigo mecanismo partes largadas em algum lugar qualquer.
quarta-feira, 17 de abril de 2024
Especial: Edilson Araújo: verde que te quero verde.
Por Márcio de Lima Dantas.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montãna.
Federico Garcia Lorca
A pintura de Edilson Araújo (Ouro Branco RN, 1950) estabelece relações com diversas tradições e personalidades no âmbito das artes visuais. Mas primeiro vou me debruçar sobre aspectos dessa pintura, eivada de uma opulenta singularidade quando posta, para efeito de comparação, ao lado de outras produzidas no Rio Grande do Norte. Falo desse conjunto de artistas filiados à chamada representação naif. Com efeito, hoje, o estado do Rio Grande do Norte nada deve a ninguém, não apenas por deter autodidatas de extrema beleza e domínio técnicos, capazes de compreender exatamente o que estão fazendo, bem como ter esses artistas integrando acervos públicos ou galerias de arte.
E se a maioria, só para ficar em um exemplo, não manuseia a perspectiva, buscando a profundidade, nem por isso invalidada a qualidade técnica e o reconhecimento não só do meio artístico, que quase sempre integra o acervo de exposições coletivas e individuais, mas de fazerem parte do mercado da arte. Consabido é de o quão laborioso se faz colocar obras de determinados pintores em um mercado muito concorrido, no sentido de que nem sempre há pessoas interessadas em adquirir obras de arte. Sendo assim, tarefa árdua a de deter um público de gente com interesse de não apenas chancelar a qualidade de um pintor e sua obra, mas ir para além dos elogios, adquirindo telas para se firmar como alguém que sabe da estética como integrante do modus vivendi de uma determinada coletividade.
Sim, antes de adentrarmos pelos principais aspectos da obra de Edilson Araújo, gostaria de evocar o fato de termos na historiografia das artes visuais uma das mais importantes, ou melhor, talvez a mais importante do Rio Grande do Norte. A saber, foi aqui que nasceu e dedicou sua vida ao trabalho: Maria do Santíssimo (São Vicente RN, 1890- idem 1974). Uma vida plena de curiosidades, repleta de enigmas, ao retratar por meio de pincéis feitos de palitos de coqueiro, e como tinta, a anilina, e que as categorias da Arte não alcançam, sentem dificuldades em dar conta, dada a fartura de pequenos paradigmas, lançando seus vetores simbólicos para certas auras que só a noção de arquétipos podem abraçar
esponsais possibilitadores de tornar inteligível essa curioso trabalho estético, que é muito mais uma seara de formas habitantes de regiões soturnas do humano.
Mas voltemos ao pintor de Ouro Branco. É por demais interessante observar o quanto de tradições ou de pintores evocam ou remete, talvez um dos naifs com mais referências implícitas que o nosso estado acolhe no seu atual panorama de artes visuais, em se tratando dos chamados ingênuos ou primitivos. Dito isso, vamos por partes.
Lembra, e muito, a maneira como o também naif Heitor dos Prazeres elabora a fisionomia do humano em suas telas: sempre estão de perfil, sendo que, diferente de Edilson Araújo, as personagens retratadas perfilam-se em movimento, como se acompanhassem uma qualquer dança, imprimindo uma graça e uma alegria por se encontrarem face às vicissitudes, mas com nesgas de soluções abertas por cada um. E por ter e deter a sapiência como uma sua caudatária, espécie de carta na manga, conseguida na trajetória de dias, eis o que se comemora do triunfo diante do imponderável das forças da vida, soprando sua borrasca interminável.
Sem, contudo, se deixar alquebrar, compreendendo que um fazer parte da vida também é a necessidade de uma legítima resignação. Penso que nessa forma de ser e de se comportar há uma resposta que muito mais do que um simples aceitar, é um salto qualitativo que nos veste com o manto da sabedoria.
Não posso deixar de lembrar aqui a Arte Egípcia e a obrigatoriedade de uma representação tendo como pano de fundo a Lei da Frontalidade (pernas e rosto, de lado; olhos e tronco, de frente). Essa maneira de conjugar as figuras não tem uma regularidade em todas a telas de Edilson Araújo, algumas fogem a essa lei outrora encontrada nos afrescos de paredes em túmulos no antigo Egito.
Evidencia-se, por meio de um conjunto de paradigmas pictóricos, oriundos da tradição da arte de representar ingênua ou primitiva, uma sempre presente atenção a tudo o que nos cerca, quer seja da natureza ou da cultura, isso significa deitar um olhar amoroso tanto sobre os pássaros, árvores, flores, quanto sobre o homem envolvido no seu trabalho, nas festas ou nas lavouras.
Contudo, essa maneira de observar presta-se à chance de extrair o sumo que venha a preencher o vaso insigne da sabedoria e de uma possível arte do bem viver, compreendendo que o alento primacial encontra-se no valorizar as coisas simples, outorgando ao que é bom e bonito o status de uma placidez ansiosamente buscada pelo espírito humano, submetido às tempestades emocionais, às atribulações que chegam de surpresa, à impermanência e sua lei que diz: tudo é impermanente, só o que é permanente é a impermanência. Quem havera duvidar de?
Sendo necessário uma atitude que nos demanda a coragem de reter por nossa conta e risco à rodagem que nos leva aos aceiros paralelos à estrada principal, o que nominam como Normalidade. Assim sendo, de certo ponto de vista, viver é escolher o que nos concerne, os sítios nos quais vicejam identidade e números capazes de definir nossa satisfação, sossego, tranquilidade, enfim, os campos vibracionais que circunscrevem uma identidade capaz de nos aquietar e encontrar razões no viver.
Outra coisa, há excesso de elementos justapostos, dizemos isso no melhor sentido, na medida em o que o conjunto perfaz uma grande harmonia. Não queremos dizer que essa espécie de excesso queda-se pura e simplesmente para achegar figuras em diversas cores, numa profusão que funciona como “enfeite”. Longe de mim afirmar isso. Ora, acontece que esse fato expede um diálogo com a nossa tradição Barroca. Como sabemos, o Brasil foi um dos países no qual o Barroco mais prosperou, sendo uma grande parte tardio, porém não capaz de invalidar, a quantidade e a qualidade obras primas (haja vista o patrimônio histórico de Minas Gerais e em todo o Nordeste.
Esse ethos ornamental, longe de mim dizer que este suplanta o valor estético, uma vez que logrou êxito por meio de uma sempre presente harmonia dos elementos que compõem a cena, justapostos quase sempre de maneira arbitrária. Quero dizer, não segue princípios lógicos, permitindo ao artista conjugar cenas ou figuras sem o uso do que chamam de leis.
Mais que coisa bonita! Eis o voo de pássaros, árvores com frutos, homens e mulheres na labuta do dia a dia, dias de comemoração e festas, só uma écloga poderia organizar esse louvor do mais puro deleite, conduzindo os sentidos a crer, e saber, que a vida não se limita a inglória luta imposta pelas circunstâncias, tendo aqui os embates do presente e os anseios e medos com relação ao futuro.
Por fim, não nos custa discorrer um tanto acerca da cor predominante nas telas de Edilson Araújo. Causa uma espécie de empatia logo que nos achegamos diante de uma das suas inúmeras representações, valendo lembrar que todo o espaço em branco é preenchido por matizes da cor verde, quintessência da natureza. Ora, desde sempre a simbólica dessa cor esteve associada à natureza e, por extensão, incluir o perímetro de uma semântica relacionada ao equilíbrio e à harmonia: saúde, frescor, vitalidade. Verde é vida, evocando à renovação periódica das nossas duas estações: a seca e a das chuvas. Esta é sempre bem vinda e esperada, por meio de calendários que o senso comum manuseia elementos, superstições, demonstrando sua presença no imaginário de Nordeste. Embora não sendo possível abandonar os serviços de meteorologia da região.
sexta-feira, 22 de março de 2024
Cariri Cangaço - Território de Grandes Econtros.
Depois do grande sucesso do Cariri Cangaço realizado no município de Catolé do Rocha-PB, agora será a vez dos municípios de Afogados da Ingazeira, Carnaíba, Ingazeira e Iguaracy sediarem este importante evento que evidencia a história do Cangaço no Nordeste.
de 18 a 21 de Abril, o Cariri Cangaço Afogados da Ingazeira, realizará uma grande programação.
Veja!!!
CARIRI CANGAÇO AFOGADOS DA INGAZEIRA
Carnaíba – Ingazeira – Iguaracy
Pernambuco – Nordeste do Brasil
18 de abril de 2024 - Quinta-Feira
NOITE
NOITE SOLENE DE ABERTURA
CINE TEATRO SÃO JOSÉ
Rua Newton César de Macedo Lima, s/n – Afogados da Ingazeira
18h Abertura Festiva da Feira de Livros
19h Início da Noite Solene
Mestre de Cerimônia
Marcelo Litwak
Apresentação Artística
Grupo de Xaxado Bandoleiros da Solidão
Formação da Mesa Solene de Abertura
MANOEL SEVERO BARBOSA – Curador Cariri Cangaço
ALESSANDRO PALMEIRA– Prefeito Municipal de Afogados da Ingazeira
ANCHIETA PATRIOTA- Prefeito Municipal de Carnaíba
LUCIANO TORRES – Prefeito Municipal de Ingazeira
ZEINHA TORRES – Prefeito Municipal de Iguaracy
AUGUSTO MARTINS – Presidente da Comissão Organizadora
JOSÉ PATRIOTA – Deputado Estadual
PADRE LUIZ MARQUES FERREIRA – Diocese de Afogados
HESDRAS SOUTO – Presidente do CPDOC
ALBERTO RODRIGUES – Presidente do IHGP
LEMUEL RODRIGUES- SBEC Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
ARCHIMEDES MARQUES – Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço
ADRIANO CARVALHO – Academia Brasileira de Estudos do Sertão
NARCISO DIAS – GPEC Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço
ANGELO OSMIRO – GECC Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
WASTERLAND FERREIRA- GECAPE Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco
JULIERME WANDERLEY – Conselho Cristino Pimentel – Borborema Cangaço
19h Hino Nacional
Banda de Musica Municipal Bernardo Delvanir Ferreira
19h15 – Entrada do Estandarte do Cariri Cangaço
Conselheiros Cariri Cangaço: Célia Maria Parahybana – João Pessoa PB
Capitão Quirino Silva – João Pessoa PB
19h40 – Apresentação do Cariri Cangaço
Conselheiro LUIZ FERRAZ FILHO – Serra Talhada PE
TAILENE BARROS – Serra Talhada PE
19h50 – Cumprimentos aos Convidados
MANOEL SEVERO BARBOSA – Curador Cariri Cangaço
ALESSANDRO PALMEIRA– Prefeito Municipal de Afogados da Ingazeira
AUGUSTO MARTINS – Presidente da Comissão Organizadora
JOSÉ PATRIOTA – Deputado Estadual
20h30 – Entrega de Comendas “Mérito Cultural Cariri Cangaço”
Prefeito Alessandro Palmeira – Sandrinho
Entregue por Conselheiro Zezito Maia – Catolé do Rocha PB
Gastão Cerquinha da Fonseca(in memorian)
Entregue por Conselheira Elane Marques – Aracaju SE
3.Joel Ferreira Lima – Museu da Saudade
Entregue por Conselheiro Luiz Ferraz Filho – Serra Talhada PE
José Rufino da Costa Neto – Dedé Monteiro
Entregue por Conselheiro Moustafa Veras – Afogados da Ingazeira PE
Nivaldo Alves Galindo Filho – Nill Junior
Entregue por Conselheira Ana Gleide Leal – Floresta PE
21h – Posse de Novos Conselheiros Cariri Cangaço
HESDRAS SÉRVULO SOUTO DE SIQUEIRA CAMPOS FARIAS
Estola e Diploma entregues por Conselheiros
ANDRÉ VASCONCELOS – Triunfo PE
LUMA HOLANDA – João Pessoa PB
ORLANDO NASCIMENTO CARVALHO
Estola e Diploma entregues por Conselheiros
MANOEL BELARMINO – Poço Redondo SE
JOÃO DE SOUSA LIMA – Paulo Afonso BA
21h 10 – Conselheiros Mirins
HENRIQUE DINIZ FERRAZ NOVAES
Estola e Diploma entregues por Conselheiro
CLÊNIO NOVAES e HELGA DINIZ – São José de Belmonte PE
FELIPE ANTÔNIO CAMPOS TELES PEREIRA DE MENEZES
Estola e Diploma entregues por Conselheiro
LOURO TELES e JOSEANE TELES – Calumbi PE
21h 30 – Homenagem “Mulher Arretada Cariri Cangaço”
Manoel Severo e Tailene Nogueira Barros
Ângela Maria Recife PE
Catarina Venâncio João Pessoa PB
Eliana Pandini Entre Rios BA
Glaucia Ferraz Serra Talhada PE
Helga Diniz Floresta PE
Isalete Alencar Paulo Afonso BA
Joseane Teles Calumbi PE
Maria Oliveira Poço Redondo SE
Ranaíse Almeida Capoeiras PE
Risonete Rodrigues João Pessoa PB
Rosane Ferraz Recife PE
Rose Sousa Poço Redondo SE
Sulamita Burity Campina Grande PB
21h 50 – Homenagens pela ABLAC
Archimedes Marques e Elane Marques
22h – Passagem do Estandarte do Cariri Cangaço
Atual Sede : Afogados da Ingazeira PE
AUGUSTO MARTINS – HESDRAS SOUTO – LUIZ FERRAZ FILHO – LOURO TELES
MOUSTAFA VERAS – TAILENE BARROS – LUMA HOLANDA
Próxima Sede: Jardim CE
ADRIANO CARVALHO – LUIZ LEMOS – JOÃO PAULO SOUZA
22h10 Encerramento
19 de abril de 2024- Sexta-feira
MANHÃ
8h -SAÍDA PARA VISITA TÉCNICA
Serra da Colônia – Local do Nascimento de Antônio Silvino
CARNAÍBA – PE
9h – SOLENIDADE
9h10 Entrega da Comenda Mérito Cultural
Prefeito de Carnaíba, Anchieta Patriota
Entregue por Conselheiro Leonardo Gominho
9h20 CONFERÊNCIA DE CAMPO NA SERRA DA COLÔNIA
As Origens de Antônio Silvino
Hesdras Souto Tuparetama PE
Antônio Silvino sob o Olhar da Família
Rafael Borges Caruaru PE
Bisneto de Antônio Silvino
10h – CAPELA DE SANTO ANTÔNIO DA COLÔNIA
Entrega e Consagração Comenda de “Lugar de Memória Cariri Cangaço”
Padre Luizinho Marques
Entrega por Conselheiros Joaquim Pereira e Wescley Dutra
11h30 – VISITA DE CAMPO
Museu do Rádio
Rua Sete de Setembro, Afogados da Ingazeira
11h45 Entrega da Comenda Mérito Cultural
Museu do Radio
Nill Junior
Entrega por Conselheiros Archimedes e Elane Marques
13h – ALMOÇO EM AFOGADOS DA INGAZEIRA
TARDE LIVRE
NOITE
18h30 – PAINEL E DEBATES
Auditório da Câmara Municipal
Rua Dr. Roberto Nogueira Lima, 236, Afogados da Ingazeira – PE
19h – LANÇAMENTOS E APRESENTAÇÃO DE LIVROS
As andanças de Antônio Silvino pelos sertões do Seridó e Curimataú
Fabiana Agra Picuí PB
Manoel Netto – No rastro de Lampião
Leonardo Gominho Floresta PE
Manoel Batista de Morais – Cangaceiro Antônio Silvino
Célia Maria Silva João Pessoa PB
Carnaíba: Memórias, Transformações Espaciais e Socioculturais
José Anchieta de Siqueira São Paulo SP
19h30 – CONFERÊNCIAS
ANTONIO SILVINO – O Rifle de Ouro
Julierme Wanderley Campina Grande PB
AS VÁRIAS FACES DA PRISÃO DE ANTONIO SILVINO
Debate com Painelistas
Geraldo Ferraz Recife PE
Ivanildo Silveira Natal RN
Fabiana Agra Picuí PB
Rafael Borges Caruaru PE
Luiz Ferraz Filho Serra Talhada PE
Hesdras Souto Tuparetama PE
22h Encerramento
20 de abril de 2024- Sábado
MANHÃ
8h -SAÍDA PARA VISITA TÉCNICA EM INGAZEIRA
Ingazeira – Passagens de Antônio Silvino
INGAZEIRA – PE
9h – SOLENIDADE –IGREJA MATRIZ DE SÃO JOSÉ
INGAZEIRA – PE
9h10 Entrega da Comenda Mérito Cultural
Prefeito de Ingazeira, Luciano Torres
Entregue por Conselheiros Clênio Novaes e Junior Almeida
9h20 CONFERÊNCIA DE CAMPO E
O GRANDE ENCONTRO DA FAMÍLIA MORAES
(Descendentes de Antônio Silvino)
As Passagens de Antônio Silvino
Hesdras Souto e Osmano Moraes
9h50 Comenda para Antônio Silvino
“Personagem Eterno do Sertão”
Família Moraes
Entregue por Conselheiros, Carlos Alberto Silva e Josué Macedo Santana
10h – VISITA ÀS CASAS DAS IRMÃS DE ANTONIO SILVINO
10h30 -SAÍDA PARA VISITA TÉCNICA EM JABITACÁ
Jabitacá – Passagens do Cangaceiro Meia-Noite
IGUARACY – PE
11h – SOLENIDADE –IGREJA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO
JABITACÁ, IGUARACY – PE
11h10 Entrega da Comenda Mérito Cultural
Prefeito de Iguaracy, Zeinha Torres
Entregue por Conselheiro Ângelo Osmiro
11h15 Entrega e Consagração Comenda de
“Lugar de Memória Cariri Cangaço”
Igreja Nossa Senhora da Conceição
Entrega por Conselheiros Geraldo Ferraz e Narciso Dias
11h20 CONFERÊNCIA DE CAMPO
Passagens do Cangaceiro Adolfo Meia-Noite
Moustafá Veras Afogados da Ingazeira PE
12h30 Retorno Afogados da Ingazeira
TARDE LIVRE
NOITE
18h30 – PAINEL E DEBATES
Auditório da Câmara Municipal
Dr. Roberto Nogueira Lima, 236, Afogados da Ingazeira – PE
19h – LANÇAMENTOS E APRESENTAÇÃO DE LIVROS
Antônio Matilde – O Mestre de Armas de Lampião
Bismarck Martins Pocinho PB
Lampião em Serrinha do Catimbau
Junior Almeida Capoeiras PE
Francisco Ricardo Nobre, o Inglês da Volta e sua descendência
de Yoni Sampaio & Geraldo Tenório Aoun Recife PE
por Joaquim Pereira Recife PE
Diário do Cangaço – Das origens da cidade de Vila Bella
a ascensão de Lampião
Paulo Cesar Gomes Serra Talhada PE
19h30 – Entrega de Comendas “Mérito Cultural Cariri Cangaço”
Tenente João Bezerra da Silva (in memorian)
Entregue por Conselheiro Bismarck Martins – Pocinho PB
Tenente João Gomes de Lira (in memorian)
Entregue por Conselheiro Louro Teles – Calumbi PE
19h40 – CONFERÊNCIAS
Tenente João Bezerra da Silva: O Comandante de Angico
Paulo Britto Recife PE
Tenente João Gomes de Lira: Memórias de um Soldado de Volante
Rubelvan Lira Nazaré do Pico PE
Clóvis Lira Afogados da Ingazeira PE
Manoel Arão: O Maior Literato de Afogados de Todos os Tempos
Saulo Duarte Flores PE
22h – APRESENTAÇÕES ARTISTICAS NA PRAÇA
21 de abril de 2024- Domingo
MANHÃ
8h -SAÍDA PARA VISITA TÉCNICA EM CARNAÍBA
8h45 VISITA AO MONUMENTO AO POETA ZÉ MARCOLINO
Santo Antônio – Carnaíba PE
9h VISITA AO MUSEU DE ZÉ DANTAS
Praça de Eventos Milton Pierre s/n Centro – Carnaíba PE
Apresentação da Banda de Pífanos do Riacho do Meio
Cíço do Pife e Joel do Museu da Saudade
9h10 Entrega da Comenda Mérito Cultural ao Museu de Zé Dantas
Entregue por Conselheiro Emmanuel Arruda
10h VISITA À CASA E BUSTO DE ZÉ DANTAS
ENCERRAMENTO
CARIRI CANGAÇO AFOGADOS DA INGAZEIRA
Carnaíba – Ingazeira – Iguaracy
Pernambuco –Nordeste do Brasil
Realização
Instituto Cariri do Brasil
Conselho Alcino Alves Costa – Cariri Cangaço
Apoio na Realização
Prefeitura Municipal de Afogados da Ingazeira
Prefeitura Municipal de Carnaíba
Prefeitura Municipal de Ingazeira
refeitura Municipal de Iguaracy
Apoio Institucional
SBEC – Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
ABLAC – Academia Brasileira de Letras e Artes do Cangaço
ABRAES – Academia Brasileira de Estudos do Sertão Nordestino
GECAPE – Grupo de Estudos do Cangaço de Pernambuco
GPEC – Grupo Paraibano de Estudos do Cangaço
GECC – Grupo de Estudos do Cangaço do Ceará
Borborema Cangaço
CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação do Pajeú
IHGP – Instituto Histórico e Geográfico do Pajeú
CARIRI CANGAÇO
Especial: Madé Weiner: da atualidade de resignificar técnicas das artes visuais
Por Marcio de Lima Dantas
Sempre evitei falar de mim,
falar-me. Quis falar de coisas.
Mas na seleção dessas coisas
não haverá um falar de mim?
João Cabral de Melo Neto *
Madé Weiner (São Vicente, 1949) foi bastante precoce ao seguir o seu pendor para a arte, aos cinco anos desenhava as tias e o seu jabuti. Não causa espanto o fato de aos 23 anos, aportar em Londres, com 30 anos inicia seus estudos sobre arte. Essa permanência conduziu-a a tentar preencher os hiatos que foram sendo deixados nas rodagens e marginais, como se fossem impostas pela vida. É então que estuda no Waltham Forest College. Porém, tudo indica que não conseguia mais mapear onde perdera a calma (Quem tem alma, não tem calma, Fernando Pessoa), corroborando essa ausência de tranquilidade, estuda de 1983 a 1985 na Open Foundation Course in Art.
Não seria justo esquecer de arrolar os professores/mestres ao longo de tempos nos quais a disciplina e o talento outorgaram a tão conhecida boda que satisfaz não somente uma alma, imprime júbilos nos que apreciam a arte e fazem do contemplar telas, plenas de pathos, um sal e um condimento para uma presença no mundo, em busca de um sentido para suas respectivas existências.
Estudou pintura com Nick Wyndham, Bob Waltman e Keith Mac. Passando pela cerâmica e tecelagem com Rogério e Anne.
A nossa artista parece não precisar com exatidão o momento no qual houve a cisão entre uma rotina do que chamam “mulher” e uma tomada de ação que a conduziu em direção a uma convivência pacífica com uma inquietude da alma, possibilitando conviver com seus demônios, não havendo outra solução: a arte é esse chafurdo interior no qual não se procura, todavia acaba encontrando. Oxalá possamos especular do surgimento dessa personalidade: a mãe falece aos 22 anos, quando ela caiu no mundo: nascida. Adotada por
Tia Alzira, uma senhora que tinha uma loja de tecidos e costurava como um alfaiate.
O amanho das tantas técnicas estudadas, ancorou seu talento no pastel seco, dando à luz a toda uma sorte de representações, quer sejam de torsos nus ou marinhas. Creio ser necessário uma classificação dos trabalhos da artista. Vejamos.
Modelo vivo (1), Marinhas (2), Cerâmica de alta da temperatura (3), Pintura (4): acrílico, carvão, nanquim e pastel seco.
No que concerne ao modelo vivo (1), quase sempre os corpos limitam-se à retratação do torso. Dificilmente aparece um rosto. Há que lembrar que a artista não busca comprovar seu domínio sobre a técnica do pastel seco. Os corpos aparecem em recortes, demonstrando que o interesse não é sobre a individualidade, sobre a persona de um sujeito, mas sagra a perspicácia de explorar o volume e a forma por si mesma. Refratando deliberadamente a ausência de apego à figura de um provável sujeito detentor daquele corpo.
Não existe interesse pelo semblante, basta observar e imprimir no papel os meandros de um corpo masculino ou feminino, fazendo valer um domínio sobre a técnica pastel seco, manuseado com grande mestria.
Assim sendo, sua retratação de modelos vivos não se atém tão-somente aos torsos nus. Há um caderno, dos anos 80, cujas páginas repletas de perfis, quase sempre masculinos, e com autêntica desenvoltura, manuseando diversas espécies de lápis e cores, refletem uma desenvoltura com relação ao desenho acadêmico. Com poucas linhas nuas sobre o papel consegue dar conta de uma personalidade, através dos olhos ou dos contornos dos lábios, ou cabelos revoltos.
Com efeito, pode até parecer exagero, mas esses cadernos resguardam um dos melhores momentos da artista, no que concerne ao domínio do desenho acadêmico. Na verdade, qualquer retratação interna ou externa, qualquer que seja o campo de criação artística, sucede aqui uma habilidade com enorme consciência do que está elaborando.
Vejamos as marinhas (2). Afora de qualquer dúvida, uma das séries nas quais a expressão estética revela a necessária longanimidade, para que as razões primárias venham à tona e habite mãos, e pensamentos daquela que contempla os recortes da natureza. De ânimo pronto, a artista aceita apascentar formas, volumes, cores e nuances, conduzindo com ordem e consciência, estabelecendo a necessária relação que o fazer artístico precisa para vigorar com intensidade, legando aos olhares dos tantos interessados na
compreensão/curiosidade de um vir a ser diferente da realidade a qual estamos habituados.
Há certas invariantes nas Marinhas. Tudo faz crer de um primeiro plano evidenciando formações rochosas em cores várias, podendo ocupar 2/3 do enquadramento. Aqui ocorrem as falésias, formações rochosas ou as dunas que concernem ao relevo das nossas praias. A artista aspergiu o seu talento e domínio técnico do pastel seco com grande mestria, mas também é possível encontrar acrílica sobre tela.
Até certo ponto, lembra-nos, algumas Marinhas Dorian Gray, cujas telas remetem a uma indecisão entre o figurativo e o abstrato, talvez onde este pintor tenha atingido sua excelência como detentor de um domínio beirando a perfeição dos seus gestos, das técnicas e das cores com as quais modelou, por meio de um compromisso com os pendores da sua psiqué. E assim foi capaz de plasmar uma série de telas nas quais a indeterminação entre os planos figurativos e abstratos esplendem diante do expectador a beleza de sua arte (tekhné).
Sim, há também uma série deveras interessante em Madé Weiner. São as naturezas-mortas, em acrílica sobre tela, de um requintado primor na consecução do que parecem ser flores passíveis de causar estranhamento, pelo fato de não remeterem à botânica nossa conhecida. É o caso de uma flor em tons azulados, visivelmente riscada com a técnica do pastel seco, rebenta como se fosse plissada em um tecido, mas não deixando aquele que contempla sem a ambiguidade da dúvida acerca de que espécie se trata.
Na cerâmica de alta temperatura (3), queimada a 1000º, também conhecida como cerâmica vitrificada, parece que a artista se sente mais à vontade, sem os rigores e as exigências de outros meios de alcançar o timbre estético de uma peça. Nesse sentido, o sentimento suplanta o excesso de cuidados e consciência necessários a uma feitura subordinada a determinadas leis deixadas pela tradição, como, por exemplo, no uso do pastel seco, muito usados pelo Simbolismo e Impressionismo. Sendo aquele que vem ao mundo como um assinalado, com o farnezinho de articular coisas do espírito (no caso, aqui, artes visuais), fica com uma dívida para com estilos históricos, sobretudo os que passam pelas escolas de Belas Artes ou coisa assemelhada.
E se não consegue superar, dado o cabedal de movimentos, vanguardas, tradições, que estão sedimentados onde se deseja pisar, pode ser que logre encontrar uma alternativa diferente para ir de encontro a mesmice que repete o refrão tedioso aos pósteros. Não vale é ser discípulo comedido e sem as necessárias rupturas para inaugurar uma assinatura singular.
Suficiente deitar os olhos com atenção, para se constatar na cerâmica vitrificada o predomínio da linha curva. Ausentes de ângulos retos, as formas orgânicas demonstram sua opulência e maleabilidade, sem a simetria bilateral ou radial. Há que buscar estabelecer relações com o que se encontra mais próximo ou determinadas formas a que estamos acostumados. Eis o surgimento de totens, estelas, fragmentos de fachadas de edifícios. Assim nos vem o estilo Art Nouveau, o parentesco mais próximo no tempo e no espaço, na medida em que Madé Weiner morou durante tanto tempo na Europa, berço desse estilo.
Curioso que a artista usa, e admite, a Cerâmica Vitrificada como espécie de possibilidade mais amena de expressão. Fica difícil não evocar o Regime lunar e noturno da deusa Selene, cujos atributos evocam o que fomos acostumados a compreender como “feminino”, mas que no imaginário não existe a pureza. Há que compreender onde auras simbólicas envolvem cada fenômeno, deixando entrever as possibilidades de sínteses entre o Regime Diurno e o Regime Noturno (Gilbert Durand, As estruturas antropológicas do imaginário).
A artista abandona provisoriamente os domínios da musa Érato (poesia lírica), desde sempre sua protetora, e conduzindo-a aos ambientes mais íntimos, haja vista os torsos nus, na clausura de possíveis alcovas, na qual corpos masculinos e femininos permitem o olhar atento de quem desenha; os perfis de rostos desenhados em um caderno, as tomadas da natureza, salientando aspectos pouco apreciados, ou originais naturezas-mortas. E saindo, provisoriamente, dessas abordagens que se voltam para o âmago, não importando se existe um ethos narrativo ou não, compraz-se em ângulos que detém um valor em si, e não por relação.
Ora, para onde ia incensar outros altares, se não para a musa Calíope (narrativa, eloquência, cura a melancolia, dom da adivinhação)? À la recherche de temps perdu, começa a organizar uma série intitulada “Dossiê do semiárido”, retomando fatos e lembranças da infância, em uma corporatura que fora depositada em sua mente por um amigo chamado Joaquim Sabão, que servia de companhia na loja da tia, atualizando-a nos informes acerca da cidade.
Nos últimos trabalhos é que se voltou, com uma espécie de pressa (o tempo urge!). Para retratar aspectos e personagens da pequena cidade de onde é oriunda: São Vicente (antigamente Saco de Luísa), localizada no Seridó, onde o sol é mais inclemente, nas terras áridas do Rio Grande do Norte. Eis
que surge Zefa, desenhando novas linhas de existir, reconsiderando valores a que estava habituada, após ser deixada por Abdias.
Houve, antes disso, um affaire entre Zefa e um barbeiro que só vinha à cidade nos sábados da feira, conduzindo o que chamavam “mala cheirosa”, onde havia toda espécie de utensílios para se fazer cabelo e barba. Em Zefa ele dera uma geral, pelos externos e internos. O marido enciumado abandona-a. Com a ruptura do casal, a mulher é deixada só e com três filhas. Ao que parece, era vivedeira. Também pudera, nessas terras de vegetação xerófila, haverá de ser outra coisa que não se reorganizar e enfrentar os dias quentes?
Então, surge, na rua Velha, um novo meio de vida: uma animada casa de recursos, atraindo os homens da polis, povoada por grande diversidade de mulheres, aberta só durante a noite, visto que durante o dia trabalhavam na feitura de redes. O freguês elege para diversão a que tipo de prostituta é mais condizente com a aura de determinados dias. Mas também pode ser fiel a um costume, sempre o fascínio por uma sorte de meretriz já conhecida no alcouce.
A necessidade de organizar as meretrizes na Casa de Recursos da Rua Velha, através da retratação em telas, parece conter uma pulsão que remetem à noção de arquétipos, irmanados por força centrípeta, ajuntando as mulheres e fazendo-as representar no grande teatro do mundo. Necessário papel para que o palco da vida e suas leis do cotidiano, tenha uma dinâmica. Ainda, o lupanar acolhia as mulheres que não se enquadravam no status quo de uma sociedade regida pela necessidade da vigilância e da implacável punição (Foucaut). Fosse quem fosse, sempre houve o inevitável do outro um tanto vulnerável, um muito de ingenuidade, o cotidiano como o dia que se achega com suas errâncias, ser apontado como “anormal”, para que o grande coro social não desafine. Como era de se esperar, João Sabão recebeu a pecha de “doido”. Assim se fez, por uma necessidade (dynamis) que rasga as duas mãos: uma de dentro (psique) e outra de fora, do coletivo (enteléquia). Emprego livremente a terminologia de Aristóteles.
Com efeito, Zefa, a comandante em chefe do Cabaré, era obesa, para completar a compleição do que o destino conduzirá a vir a ser uma cafetina, por não valer no lupanar pelos atributos do corpo, rege-se pela perspicácia dos olhos e da audição, exclamando seu verbo persuasivo a imprimir valias do ambiente nos fregueses. Nininha era a dançarina, animando por meio do corpo e da música o bordel. Lica era mais recatada e misteriosa, talvez por não se interessar muito pela retórica. Ziruca era a mais falante, um tanto extrovertida, a eloquência era parte do seu charme. Em síntese, como
dissemos, a musa Tália (da tragédia e da comédia/festividade) regia os carrilhões que movimentava a cena viva que é o humano em evidência. Teatro ou circo: quase a mesma coisa.
Deixe ver se ainda posso acrescentar algo. A obra da artista Madé Weiner configura-se como espécie de inópia, em cuja corporatura subjaz o traço vincado de uma aproximação com sua história de vida. Mesmo tendo ido parar em Londres, locus onde aprendeu todo um conjunto de técnicas, e ao que parece, foi-lhe incutida a necessidade da disciplina, do método e da consciência de se deixar habitar pelo trabalho para com a arte. Havendo que lembrar que toda uma constelação de imagens e enxames de símbolos estavam amainados no seu imo, desde sua infância de órfã criada por uma tia costureira. Quando juntou as duas pontas do seu percurso, voltando para si mesma, chegando em São Vicente.
Também faremos a cobra engolir seu rabo. Encerramos como começamos, com o poeta pernambucano. “Homenagem renovada a Marianne Moore” (Museu de tudo):
Como saber, se há tanta coisa
de que falar ou não falar?
E se o evitá-la, o não falar,
é forma de falar da coisa?
João Cabral de Melo Neto *
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